terça-feira, 4 de junho de 2013

(Crônica) Coisas que deixamos pra trás,

por José Mauricio.

Em frente ao mar... Com a sinestesia da brisa vinda do quebrar das ondas, com o furor de sorrisos agudos, ansiosos pelo movimento de vai e vem da água, coisa que sempre acontece, mas que muitos parecem não entender... Assim como tantas outras coisas que sempre acontecem e que nunca conseguimos entender ou superar...

Ele sorria e olhava para o horizonte, como quem vê algo intrigante e ao mesmo tempo muito satisfatório, quando disse: - Hoje podemos dizer que conseguimos...
Ela respondeu com um quê de quem não acreditava no que via, apesar de não ver nada, concretamente: - E se tudo não passar de um sonho?
Ele, com toda segurança no que dizia, como se as palavras formassem castelos em seu movimento labial, respondeu a ela: - Creio que meu subconsciente não poderia me dispor de todo esse prazer!
Ela: - Você e suas indagações...
Ele: - ...
Ela, fechou a cara como se fosse levantar da areia e arremessar uma pedra de 1 tonelada sobre ele, mas apenas proferiu as seguintes pedradas, ou palavras, ou o que a voz pode proferir: - E por fim... Tudo vai acabar mesmo, mais cedo ou mais tarde... Tudo sempre acaba!
Ele conseguiu segurar a pedra, antes que ela o esmagasse como uma formiga indefesa e a arremessou, citando o seguinte: - Por que você sempre vem com esses restolhos de má esperança? Nós nos amamos, estamos juntos, estamos bem e da forma que queríamos... E o melhor disso tudo é que eu perdi meu velho medo de perder!
Ela não se conteve e fez com que suas lágrimas passassem a ser parte daquela imensa concentração de água salgada a sua frente...
Ele: - Por que você está chorando?
Ela respondeu, misturando ondas sonoras, lágrimas e medo: - E se tudo não passar de um sonho?
Ele recostou o rosto dela sobre seu ombro e disse, mesmo sem dizer, que era a fortaleza dela e depois disse, dizendo: - Se for um sonho, prometo que quando acordar levo seu café da manhã na cama, com uma rosa bem bonita e a foto do nosso primeiro beijo.
Ela sorriu esplendorosamente, como uma criança, logo em seguida o abraçou “aconchegantemente”: - Seu bobo...
Ele: - Você entende agora?
Ela: - O que?
Ele: - Que eu te amo...
Ela: - Sim, mesmo com todo esse medo antiquado que tenho do futuro...
Os dois se calaram. Ele parecia tentar lembrar afirmações praticas para provar o que ela disse e com sucesso, pois logo em seguida ele sorriu. 
Ela também sorriu, olhou nos olhos dele e disse: - Sabe o que sinto quando choro e olho pros seus olhos?
Ele: - Diga... ?
Ela respondeu firmemente, como um juiz determinando uma sentença: - Segurança!
Ele ficou sem o que dizer...
Mas ela completou o não dizer dele com palavras que reafirmavam a tal segurança que ele a trazia na troca de olhares, enquanto o olhar dela estava molhado e maleável e o dele seco e sólido, como um dardo que alcança o alvo...
E ela disse: - Ao seu lado parece que posso voar, pois sei que se cair você vai estar lá embaixo pronto para me pegar e dizer que me ama.
E ele continuava sem meias ou inteiras palavras...
Ela: - Lembra daquela vez que eu te disse que iria a praia com a Júlia e a Bianca, que você disse: “Não vai, eu não vou poder ir”, e eu, teimosa que só, disse: ”Ah ow! Pára de querer ser sempre o Super-Homem e me tratar como sua ‘Louis Lane’. Sei me cuidar sozinha, sabia? Você não sabe de tudo? Deveria saber isso também.” 
Ele respondeu chorando, meio que confuso: - E você foi...
Ela: - É... E eu me afoguei, mas...?
Ela esperava ele terminar a frase... “Mas...?”... Mas na verdade ele não sabia o que era pra ser dito...
Ele continuava chorando, ainda mais confuso: - Mas...?
Ela: - Você estava lá! Como sempre esteve...


Ele olhou pro horizonte, mesclando em seu âmago, choro profundo, pavor e insegurança, por incrível que pareça... Aquele homem que era a rocha viva, firmado em si mesmo, se mostrou inseguro perante àquele momento.
Ele: - Mas eu não estava!
Ela, agora a dona de toda a segurança, respondeu: Eu sei...


Naquele momento, o distúrbio na cabeça dele era tão grande que não saberia responder nem o próprio nome... E se mostrava cada vez mais inseguro e confuso: - ???
Ela sorriu e disse: Eu disse que tinha esse medo, ...
Ele estava agoniado: - Medo de que???
Ela lembrou de alguma coisa, sorriu e disse: - Você sempre querendo ser meu super-homem...
Ele: - Fala logo, medo de que? O que está havendo? Por que tudo está ficando tão claro e embaçado? E você tem medo de que?
Ela: - De que tudo fosse apenas um sonho...
E ele sentiu uma facada em seu peito...

Ele acordou, sentiu falta de alguma coisa, olhou pela janela e notou que o mar estava bravo, como se as ondas estivessem indignadas... Logo em seguida ele se olhou no espelho e viu que era ele o indignado, mesmo não sabendo com o que... Ele avistou um porta-retrato em cima do criado-mudo, que tinha sido comprado de um senhorzinho na estrada, “Por que você insiste em comprar troços velhos?”, ele a perguntou e ela respondeu como fosse PHD no assunto: - Não é velho, é antigo... Velho é esse seu jeito de querer tudo do mais moderno. Ainda acredita nessa tecnologia que chamam de progresso? Compra logo o criado-mudo e vamos embora.
Ele ria tanto, a ponto de quase chorar... Ele nunca dizia para ela, mas sem ela na vida dele, faltaria o todo dele mesmo...

Ele avistou o porta-retrato e obteve de relance uma resposta para duas perguntas: o porquê da indignação que sentiu no peito depois de olhar para o mar e o porquê de estar sentindo falta de alguma coisa...

“No final, tudo era um sonho”, ele disse a si mesmo... E o corpo de quem ele levaria o café da manhã na cama, não havia sido encontrado...

E a resposta era: Ela...

Nenhum comentário:

Postar um comentário