por José Mauricio.
Em frente ao mar... Com a sinestesia da brisa vinda do
quebrar das ondas, com o furor de sorrisos agudos, ansiosos pelo movimento de
vai e vem da água, coisa que sempre acontece, mas que muitos parecem não
entender... Assim como tantas outras coisas que sempre acontecem e que nunca
conseguimos entender ou superar...
Ele sorria e olhava para o horizonte, como quem vê algo intrigante e ao mesmo
tempo muito satisfatório, quando disse: - Hoje podemos dizer que conseguimos...
Ela respondeu com um quê de quem não acreditava no que via, apesar de não ver
nada, concretamente: - E se tudo não passar de um sonho?
Ele, com toda segurança no que dizia, como se as palavras formassem castelos em
seu movimento labial, respondeu a ela: - Creio que meu subconsciente não
poderia me dispor de todo esse prazer!
Ela: - Você e suas indagações...
Ele: - ...
Ela, fechou a cara como se fosse levantar da areia e arremessar uma pedra de 1
tonelada sobre ele, mas apenas proferiu as seguintes pedradas, ou palavras, ou
o que a voz pode proferir: - E por fim... Tudo vai acabar mesmo, mais cedo ou
mais tarde... Tudo sempre acaba!
Ele conseguiu segurar a pedra, antes que ela o esmagasse como uma formiga
indefesa e a arremessou, citando o seguinte: - Por que você sempre vem com
esses restolhos de má esperança? Nós nos amamos, estamos juntos, estamos bem e
da forma que queríamos... E o melhor disso tudo é que eu perdi meu velho medo
de perder!
Ela não se conteve e fez com que suas lágrimas passassem a ser parte daquela
imensa concentração de água salgada a sua frente...
Ele: - Por que você está chorando?
Ela respondeu, misturando ondas sonoras, lágrimas e medo: - E se tudo não
passar de um sonho?
Ele recostou o rosto dela sobre seu ombro e disse, mesmo sem dizer, que era a
fortaleza dela e depois disse, dizendo: - Se for um sonho, prometo que quando
acordar levo seu café da manhã na cama, com uma rosa bem bonita e a foto do
nosso primeiro beijo.
Ela sorriu esplendorosamente, como uma criança, logo em seguida o abraçou “aconchegantemente”:
- Seu bobo...
Ele: - Você entende agora?
Ela: - O que?
Ele: - Que eu te amo...
Ela: - Sim, mesmo com todo esse medo antiquado que tenho do futuro...
Os dois se calaram. Ele parecia tentar lembrar afirmações praticas para provar
o que ela disse e com sucesso, pois logo em seguida ele sorriu.
Ela também sorriu, olhou nos olhos dele e disse: - Sabe o que sinto quando
choro e olho pros seus olhos?
Ele: - Diga... ?
Ela respondeu firmemente, como um juiz determinando uma sentença: - Segurança!
Ele ficou sem o que dizer...
Mas ela completou o não dizer dele com palavras que reafirmavam a tal segurança
que ele a trazia na troca de olhares, enquanto o olhar dela estava molhado e
maleável e o dele seco e sólido, como um dardo que alcança o alvo...
E ela disse: - Ao seu lado parece que posso voar, pois sei que se cair você vai
estar lá embaixo pronto para me pegar e dizer que me ama.
E ele continuava sem meias ou inteiras palavras...
Ela: - Lembra daquela vez que eu te disse que iria a praia com a Júlia e a
Bianca, que você disse: “Não vai, eu não vou poder ir”, e eu, teimosa que só,
disse: ”Ah ow! Pára de querer ser sempre o Super-Homem e me tratar como sua
‘Louis Lane’. Sei me cuidar sozinha, sabia? Você não sabe de tudo? Deveria
saber isso também.”
Ele respondeu chorando, meio que confuso: - E você foi...
Ela: - É... E eu me afoguei, mas...?
Ela esperava ele terminar a frase... “Mas...?”... Mas na verdade ele não sabia
o que era pra ser dito...
Ele continuava chorando, ainda mais confuso: - Mas...?
Ela: - Você estava lá! Como sempre esteve...
Ele olhou pro horizonte, mesclando em seu âmago, choro
profundo, pavor e insegurança, por incrível que pareça... Aquele homem que era
a rocha viva, firmado em si mesmo, se mostrou inseguro perante àquele momento.
Ele: - Mas eu não estava!
Ela, agora a dona de toda a segurança, respondeu: Eu sei...
Naquele
momento, o distúrbio na cabeça dele era tão grande que não saberia responder
nem o próprio nome... E se mostrava cada vez mais inseguro e confuso: - ???
Ela sorriu e disse: Eu disse que tinha esse medo, ...
Ele estava agoniado: - Medo de que???
Ela lembrou de alguma coisa, sorriu e disse: - Você sempre querendo ser meu
super-homem...
Ele: - Fala logo, medo de que? O que está havendo? Por que tudo está ficando
tão claro e embaçado? E você tem medo de que?
Ela: - De que tudo fosse apenas um sonho...
E ele sentiu uma facada em seu peito...
Ele acordou, sentiu falta de alguma coisa, olhou pela janela e notou que o mar
estava bravo, como se as ondas estivessem indignadas... Logo em seguida ele se
olhou no espelho e viu que era ele o indignado, mesmo não sabendo com o que...
Ele avistou um porta-retrato em cima do criado-mudo, que tinha sido comprado de
um senhorzinho na estrada, “Por que você insiste em comprar troços velhos?”,
ele a perguntou e ela respondeu como fosse PHD no assunto: - Não é velho, é
antigo... Velho é esse seu jeito de querer tudo do mais moderno. Ainda acredita
nessa tecnologia que chamam de progresso? Compra logo o criado-mudo e vamos
embora.
Ele ria tanto, a ponto de quase chorar... Ele nunca dizia para ela, mas sem ela
na vida dele, faltaria o todo dele mesmo...
Ele avistou o porta-retrato e obteve de relance uma resposta para duas
perguntas: o porquê da indignação que sentiu no peito depois de olhar para o
mar e o porquê de estar sentindo falta de alguma coisa...
“No final, tudo era um sonho”, ele disse
a si mesmo... E o corpo de quem ele levaria o café da manhã na cama, não havia
sido encontrado...
E a resposta era: Ela...
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