terça-feira, 4 de junho de 2013

(Prosas) Portão e Prosa,

escritas por José Mauricio e vividas por Hyago Casimiro.


CHUVA DE VERÃO.


- Paixão, não. Você quer levar tudo para o amor.
- Não, não. Amor mesmo que não tem motivação; dá-se como a chuva de verão, a qual não se espera nem se tem notícia prévia.
- Chuva de verão não se espera? Eu sei que todo dia vai chover ao final da tarde.
- Mas fica ansioso? Esse saber te motiva? Isso aí que é o amor.


MENINA ZUMBI.

- Viu aquilo ali?
- O que?
- Aquilo!
- Aquilo ali? Aquele vulto lento?
- É. O que é aquele treco?
- Parece uma menina.
- Uma menina muito branca para estar viva.
- Uma menina zumbi não é.
- Pode ser.
- Não sou em quem vai perguntar a ela.
- Nem eu.
- E se não for uma menina zumbi, mas talvez a mulher da sua vida?
- Bom, se for a mulher da minha vida é bom que eu a deixe passar. Prefiro a mulher da minha vida bem viva!


PUTA PEDINDO PARA ENTRAR.

Toc! Toc!
- Quem é?
- A Carlinha! Sou eu!
- Carlinha? Desculpe não sei quem é.
- Está tarde, eu não tenho onde dormir, será que posso dormir aí?
- Mas eu não vou abrir o portão se eu não te reconhecer. Quem é você?
- A Carlinha dali da rua de baixo.
- Carlinha? Juro que não sei quem é... Me desculpe.
- Espera, não vá embora. Eu posso pagar para dormir aí?
- Por que então não procura um hotel, Carlinha?
- Não querem me aceitar. Só acompanhada, eles dizem.
Abre o portão.
- De acordo com as suas roupas, perdoe meu linguajar, mas... Você é uma puta?
- Sim. Esse é meu trabalho. E se quiser posso pagar com o corpo para dormir aí na sua casa.
- Eu pensei que se você entrasse eu nem te deixaria dormir com esse coxão todo.
- Então posso dormir aí contigo, gostoso?
- É claro que não. Tchau!
Bate o portão.


BÊBADO PEDINDO COMIDA.

- É, mas é como eu te disse, não é?! A gente nunca sabe...
Interrompido.
- Ei, moço. Você pode me dar um prato de comida?
- Você está com muita fome?
- Sim. Muita fome. Há três dias eu não como.
- Você vive na rua?
- Eu tenho casa, mas fico mais pela rua, porque eu sou um bêbado, um alcoólatra maldito.
- Dizem que não é bom beber de barriga vazia... Vou pegar comida para você, espera aí.


FUSCA CAINDO NA VALA.

- Ei, papai, olhe a pista. Se você ficar olhando todas as meninas que passarem a gente vai acabar batendo.
- Você precisa curtir mais a vida, meu filho.
- Não vou poder curtir nem a festa do Paulinho, se você não dirigir com cautela, pai.
- Calma, filhão. Tá tudo sobre... Meu Deus! Olha aquela loira ali do outro lado... Ei, você aí. Loirinha. Dizem que Deus não dá inteligência e formosura no mesmo corpo. E que formosura, ein, minha filha.
- OLHA A RUA, PAI!

* * *

- Vou lá na padaria agora, mãe. Na volta eu ponho o lixo para fora.
- Tudo bem.
- Ei, mãe. Já viu isso aqui fora na rua?
- O quê, filho?
- Um fusca dentro da vala e uma loira chorando. Devia ser namorada de um dos dois corpos que estão colocando no carro. Ainda bem que não consegui minha carteira ainda, poderia ser eu, não é mesmo?! Enfim, tomara que tenha pão quente na padaria, esse acidente me deu fome.
- Volta rápido para colocar o lixo, ein.


ENCHENTE.

- Chegou a ir para o hospital naquele dia?
- Não, não.
- Eu não pude te ajudar mesmo. Estava atrasado para ir a academia.
- Tudo bem, não era sério. Era só um corte mesmo da corrente da bicicleta.
- É tão comum cair de bicicleta, não é?! Acho que se não caíssemos e nos machucássemos assim, com tanta naturalidade, não seríamos humanos... Talvez nós mesmos pensássemos que somos E.Ts..
- Com certeza.
- E por que me trata com tanta frieza?
- Preciso ir a alguma academia e lá vejo se acho alguma preocupação para contigo.
- Valeu, então. Eu já pedi desculpa, você não aceita. Então, tudo bem... Tchau!
- Valeu.

* * *

- Por favor, me ajude. Estou perdendo tudo. Preciso de alguém para me ajudar a salvar pelo menos a geladeira e o sofá. Seu pai está em casa para me ajudar? Ou você mesmo... Me ajude, por favor.
- Enchentes são tão ruins, não é?! Morar em lugares altos às vezes ajuda. Que sorte a minha, não?!
- POR FAVOR, AJUDE-ME!
- Estou atrasada para a academia. Vê como eu tenho ficado cada dia mais gostosa e cada dia dando menos bola para você? Abraços, amigo.


VISITA ALIENÍGENA.

- Está vendo lá no céu?
- O que? As luzes? Sim. Mas estamos bêbados.
- Aquilo está vindo para cá. É um VINI.
- VINI? Você quis dizer OVINI?
- Isso - ihc! - isso.
- Não sei. Não parece. Parece um avião. Sempre é um avião afinal.
- Dessa vez acho que não. E se for um VINI?
- Se for, a gente aperta a mão deles e pergunta se eles têm mais cachaça.


GRUPO DE TAMANDUÁS.

- Ali, amor. Viu?
- Não. Não tô vendo nada. Volta pra cama, amor. Tô cheia de fogo e você aí vendo bichos estranhos pela janela. Te falei para não fumar aquele bagulho todo.
- Não, amor. Eu não fumei. Deixei guardado pro seu pai. Ele me pediu ontem.
- Ele veio aqui ontem?
- Sim, veio.
- ...
- Ali, Michele! Ali! Tá vendo? Que porra de bicho é aquele?
- Tô vendo! Tô vendo!
- Que porra é aquela?
- Parecem tamanduás.
- Que porra que tamanduá tá fazendo aqui nessa maldita Seropédica?
- Não sei.
- ...
- Parece que é a família toda. O pai, a mãe e o filhinho.
- Aquelas porra estão de mãos dadas? Não é possível!
- Estão sim.
- Tamanduá tem mão? Não é quadrúpede?
- Sim.
- Então que porra de bicho é aquele, Michele?



CAVALOS NA CALÇADA.

- Ah!, agora essa. Chô, animais! Chô.
- Que foi, Hyago?
- Cheio de cavalo aqui na porta mãe. Pega a mangueira que eu vou espantar esses bicho.
- Deixa os bicho aí, Hyago. Não estão fazendo mal à ninguém.
- É mesmo. É bom que não preciso esperar aquela maldita kombi amanhã. Vou à cavalo para a Rural.

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